Essa obra monumental tem como pano de fundo o turbulento início do século 20, com suas revoluções sanguinárias, guerra civil entre duas guerras mundiais e, revela aos leitores, como esses eventos afetaram as vidas das pessoas naquela época atroz e assasina.
(Boris PasternaK – Foto de Domínio público)
Iúri Jivago fica órfão ainda criança e é criado pela família de um professor universitário de Moscou. Já adulto, ele se torna médico e se casa com Tonia, filha do professor. Mas quando ela dá à luz ao seu filho, Iúri recebe a ordem de se unir à linha de frente da Primeira Guerra Mundial para atuar como médico.
Quando ele volta da guerra, se encontra no meio da Revolução e da Guerra Civil na Rússia. Iúri reúne sua família e foge para uma cidade provincial e muito fria nos Urais, tentando se esconder dos turbulentos eventos e da violência, do roubo e da fome.
Nessa pequena cidade, ele conhece uma mulher linda e sedutora, de nome Lara, que já havia visto em Moscou. Ela parece uma completa estranha, de vida misteriosa e cheia de drama, cujo marido partiu para a Revolução. Mas, no meio desse pesadelo, os dois se apaixonam, descobrindo serem incrivelmente próximos.
Iúri sente o peso da consciência ao trair a esposa. Quando está prestes a se confessar para ela, a vida vira de cabeça para baixo novamente: Iúri se separa de Lara e de sua família e é capturado pelo Exército Vermelho. Durante um ano e meio, ele é forçado a trabalhar na Sibéria como médico para os bolcheviques.
Depois de fugir do cativeiro a pé, Iúri volta para os Urais, mas ali só encontra Lara – a esposa e os filhos voltaram para Moscou e lhe enviaram uma carta dizendo terem sido forçados a deixar o país junto com o sogro dele.
Iúri e Lara ficam juntos e, durante todo o inverno, se escondem da Guerra Civil em uma propriedade abandonada e remota. Mas sua vida miserável, porém feliz, é interrompida pelo retorno do marido de Lara, que pede a Jivago para deixá-la ir embora consigo, porque ele pode ajudá-la a emigrar e, assim, salvá-la. Desconfia-se que Lara esteja grávida, então Iúri a deixa ir.
Depois que a Guerra Civil termina e os bolcheviques tomam o poder em todo o país, Iúri volta a Moscou e vive com outra mulher, mas não é feliz. Uma manhã, em 1929, ele morre de um ataque cardíaco em um bonde. Por acidente, Lara comparece ao seu funeral e começa até mesmo a vasculhar as anotações dele, mas, de repente, desaparece. A hipótese mais provável de leitores e críticos é a de que ela teria sido presa e morrido no Gulag.
O que há por trás do romance?
O último capítulo do livro é composto por uma coleção de poemas de Iúri Jivago e representa uma parte muito importante e profunda da história. O autor do livro, Pasternak, era um poeta e também teve uma vida pessoal complicada, pois assim como o protagonista Jivago, também amou duas mulheres e transitava entre as duas. Assim, considera-se que Jivago seja uma personagem semi-biográfica.
“Doutor Jivago” não tinha chances de ser publicado na URSS. Formalmente, o livro trata da Guerra Civil, mas, no fundo, é um romance sobre pessoas, sobre amor e morte, o sentido da vida e o próprio universo – ou seja, absolutamente impossível de ser publicado nos tempos soviéticos, pois não fazia uma figura positiva dos bolcheviques e, em vez disso, mostrava-os como bárbaros que arruinaram muitas vidas.
(Omar Sharif como Doutor Jivago na adaptação feita por David Lean)
O romance foi proibido na URSS, mas Pasternak conseguiu enviar o livro para o Ocidente e, em 1957. Doutor Jivago foi publicado pela primeira vez na Itália, pela editora Feltrinelli. Mais tarde, a CIA revelou os documentos que comprovam que a agência estava envolvida em trazer o livro à luz. Era outra “arma” de propaganda contra o Estado soviético.
Em 1958, Pasternak foi anunciado vencedor do Prêmio Nobel de Literatura. As autoridades soviéticas ficaram ensandecidas com a premiação, recebendo-a como um ataque político contra a União Soviética. Assim se iniciou uma campanha completa contra Pasternak na URSS que envolvia o próprio chefe de Estado, Nikita Khruschov.
Pasternak tornou-se persona non grata e todas as suas obras foram proibidas.
“Não li Pasternak, mas o condeno”, tornou-se uma expressão corriqueira entre os russos. A campanha de ataques a Pasternak arruinou a carreira e a saúde do autor e Ele morreu de câncer em 1960 em sua dacha.
O romance foi publicado oficialmente pela primeira vez na URSS em 1988 e hoje faz parte de todas as listas de leitura obrigatória escolar e universitária. Atualmente é considerado um dos romances mais importantes do século 20.
Para: Aleksandra Gúzeva