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RENÚNCIA DO POETA LUCIANO MAIA

Enquanto eu lia com detida atenção, mas não com surpresa, a carta de renúncia do Poeta Luciano Maia à cadeira 23 da Academia Cearense de Letras, me pus a pensar nos motivos que levaram um dos mais profícuos e talentosos poetas que temos no país, a tomar a decisão sumária de não mais ter um trono no rol dos “imortais” das nossas alencarinas letras.

Claro que a renúncia de um poeta e intelectual da envergadura do grande LUC (é assim que o chamo na intimidade) e anteriormente do vate das musas, poeta Dimas Macêdo, atingiram em cheio o imaginário dos seus condiscípulos e com certeza abalaram as estruturas, não só do laicato literário cearense, mas de todas as instituições culturais do Estado, principalmente daquelas que há muito não se prestam sequer como instância animadora da nossa tão maltratada quanto vilipendiada cultura.

Penso que, com tais decisões, nossos poetas, Luciano Maia e Dimas Macêdo, quiseram dizer e disseram, sem pedir “venhas” a ninguém, que as vaidades, assomadas pela suposta imortalidade, são empobrecedoras do espírito genuinamente poético e só atrapalham a vocação e a criatividade de quem tem talento e gênio sobrantes.

Talvez tenha sido por um desses motivos, que o genial poeta, Francisco Carvalho, após haver sido distinguido por mérito de suas obras para ocupar uma cadeira na ACL, compareceu à solenidade, proferiu um rápido discurso de posse e nunca mais apareceu por lá.

Atitude radical fora a do poeta dos poetas e ficcionista de grosso calibre, José Alcides Pinto – o nosso JAP, pois, mesmo tendo sido ungido imortal pelo conjunto de sua vasta obra, nem posse aceitou tomar naquele sodalício.

E mais radical ainda fora o POETA ORACULAR, GERARDO MELLO MOURÃO. A cada vaga que surgia, ele era sondado e instado a tomar lugar na ACL, mas nunca preencheu sequer a ficha de inscrição. Dizia-me ele: “Eu tenho piedade intelectual e faço um olímpico desdém das obrinhas de uns pobres bonifrates que, ao adentrarem no velho Palácio da Luz, estufam os peitos e sentam-se enfatuados com suas medalhinhas na lapela da toga.                

Parece que os nossos poetas, Gerardo Mello Mourão, Alcides Pinto, Francisco Carvalho, Dimas Macêdo e Luciano Maia (cada um, sozinho, é maior do que uma rebelião), perceberam o fosso intransponível entre a literatura, o poder econômico ou prestígio social, bem como as diferenças existentes entre um poeta absoluto ou escritor por vocação e um acadêmico por comiseração!

Parafraseando o genial Luis Fernando Veríssimo a respeito da recusa da Academia Brasileira de Letras de dar um merecidíssimo assento ao Vate Gaúcho, Mário Quintana, eu diria: Se os vates que mencionei permanecessem na Academia Cearense de Letras, em nada mudaria as suas vidas, nem alargaria o prestígio intelectual que conquistaram por méritos reais e muito menos isso somaria em benefício das suas vastas e sólidas obras. Mas não estando lá, esquentado cadeira no sodalício das vaidades, suas ausências deixarão de forma perene um vazio intelectual imenso e esse vazio não é menor do que um passivo literário que jamais será coberto pelos confrades e menos ainda pela própria Academia.

Ruy Câmara – Escritor

 Imagem da esquerda para direita:

José Alcides Pinto – de terno branco, Ruy Câmara, Dimas Macêdo, Francisco Carvalho e Gerardo Mello Mourão.

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