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“Almas Mortas” de Nikolai Gógol

Com tamanha insitência, Tchitchikov consegue comprar algumas “almas mortas como se fossem servos vivos”, fato que chamou a atenção dos nobres da cidade provinciana  e estes começam então a espalhar boatos de que o forasteiro é de fato milionário. As moças da comunidade, por sua vez, ficam de olho no solteirão rico e disponível.

Mas seu sucesso não dura muito. No final das contas, todos descobrem que Tchitchikov não passa de um embusteiro ao comprar somente “almas mortas”, deixando as pessoas decepcionadas, a ponto de inventarem rumores ainda piores sobre o forasteiro. Chateado e desacreditado, Tchitchikov vê-se forçado a deixar a cidade.

O que há por trás da novela?

O primeiro título completo do livro é “As andanças de Tchitchikov ou Almas Mortas” e o autor definiu seu gênero como “poema épico” — é por isso que ele é frequentemente comparado à “Odisseia”.

Gógol imiscui ao enredo uma extensa lírica sobre os russos e a Rússia. Um dos mais famosos pensamentos que ele traz é sobre a alegria de cavalgar rápido em uma troika de cavalos. Esse trecho se inicia com a frase que se tornou uma expressão na língua russa: “Pois que russo não gosta de dirigir rápido?” No final das contas, ele se pergunta: “E você, minha Rússia, você também não está acelerando como uma troika que não pode ser ultrapassada por nada?”

Ele tenta descobrir o significado dessa rápida trotada da Rússia, mas a pergunta permanece retórica.

Gógol pretendia escrever um grande romance com três volumes e estrutura parecida com a da “Divina Comédia” do italiano Dante Alighieri. A primeira parte é provavelmente, o “Inferno”; a segunda, o “Purgatório”; e a terceira, o “Paraíso”.

Na verdade, Gógol conseguiu completar apenas a primeira parte e, assim como no “Inferno” de Dante, ela não tem nem personagens positivos, nem enredos otimistas. Ela é toda sobre os pecados e as miseráveis e sujas realidades russas, assim como seus hipócritas habitantes.

Gógol começou o segundo volume (“Purgatório”), mas parecia que ele não conseguia retratar um único personagem com traços positivos. 

“Você pergunta se ‘Almas Mortas’ está sendo escrito. Bem, sim e não, respondia Gógol. “Está sendo escrito, mas muito devagar e não como eu gostaria”, escreveu Gógol a um amigo, o poeta Nikolai Iazikov.

As perturbações espirituais de Gógol dificultaram seu trabalho. Ele mesmo disse: “Já não posso escrever como na juventude, ou seja, ao acaso, onde quer que a minha pena me leve.” Cada linha era um peso.

A única pessoa que leu a segunda parte de “Almas Mortas” foi o Arcipreste Matfêi, com quem o escritor se correspondeu e teve disputas bastante acaloradas sobre várias questões. Matfêi criticou a segunda parte do romance, dizendo que ela era nociva, e chegou a pedir a Gógol que a destruísse.

O próprio Gógol sentiu que o segundo volume não tinha dado certo. Ele achava que era melhor retratando personagens negativas e desesperançadas. “A publicação do segundo volume do jeito que está faria mais mal do que bem”, escreveu em correspondência com amigos.

“Criar belas personagens que revelem a generosidade de espírito de nossa raça não levará a lugar nenhum. Só despertará orgulho vazio e jactância…”, prosseguia em cartas.

Diz-se que ele queria destruir apenas os rascunhos, mas, por engano, jogou a cópia final na lareira também. Seja como for, Gógol ficou gravemente afetado com o ocorrido e morreu apenas nove dias depois.

Os capítulos do segundo volume que sobreviveram até hoje são uma reconstrução dos cinco cadernos sobreviventes. Esses capítulos provavelmente faziam parte das diferentes versões que Gógol escreveu.

Há grandes lacunas neles. Além disso, eles diferem, tanto no conteúdo quanto no tom, e até a tinta e o papel são diferentes. Essas páginas sobreviventes não criam uma imagem completa, e a intenção original do autor permanece desconhecida para nós até hoje.

Por que Gógol não gosto do segundo volume?

Ao certo o segundo volume de “Almas Mortas” não foi concluído por um motivo: vários anos tinham se passado desde a publicação do primeiro volume e o autor havia mudado, afinal, Gógol passava por uma convulsão espiritual e um anseio desmedido por religião e tudo isso se somava aos colapsos nervosos e crises de ansiedade. 

Decepcionado por não conseguir concluir a obra como havia planejado no início, em 24 de fevereiro de 1852, Gógol queimou o segundo volume de “Almas Mortas”, já quase finalizado. Há hipóteses de que ele tenha queimado o manuscrito em um ataque de raiva ou até por acidente. Mas é fato que, após a destruição da obra, Gógol caiu em depressão e morreu nove dias depois.

 

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