O poeta e romancista Airton Maranhão, como amiúde já era esperado, inventou uma história que revela a vocação póstuma e maniqueísta da humanidade. A ação começa com a chegada do Padre Vitorino ao povoado de Sete Pedras, um lugar esquecido no mundo, que tanto pode ser um povoado miserável do Nordeste, como um cenário lautreamoniano. Serpente, que é odiado por todos, é o emblemático agente do mal.
O Padre Vitorino, que não sabe de si mesmo, simboliza a divindade. Zé Bizira, pai de Serpente, é um personagem descontínuo, mutante, obcecado pela morte, mas que não consegue morrer. Sete Pedras é o universo metafórico e o substrato temático que conduz a abstração por um conduto ontológico de crenças, que progridem para realçar a consciência falibilista da civilização deísta.
Nas reviravoltas da abstração, Serpente é um ser com ambições eternas, como eterna e única é a vontade perturbadora dum sujeito que almeja entrar no reino de Deus. Em cada personagem há um conflito que não se define, não por insuficiência dramática, mas porque a sensação de realidade irrealizada, sugere o restabelecimento do afeto perdido, algo que clama pela reparação do que é destruído pela secularização das idéias.
Mas é no desfecho que o autor rasga a lucidez do leitor. É quando se pode alcançar o efeito trágico do homem sobre o seu torrão, o esgotamento da vida e o silêncio da sua ilusão. E tudo isso ocorre num clima misterioso, no qual o espaço se metamorfoseia com os sobreviventes, num tripé: esperança, catástrofe e morte.
Ruy Câmara é romancista, dramaturgo e sociólogo