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ESPAÇO IMPUNE

A vida é árida nessa minha andante espera

Espero e sinto o que virá num dia escasso

Um dia urdido a transfundir-se no que faço

No espaço impune onde a morte a tudo encerra.

 

Impune mesmo é essa dor que me esfacela

Beijo a quimera que me fere num abraço

Vem a luxúria, o sonho denso que me pune

É sonho, é sina, é o final do meu cansaço.

 

Bebo o orvalho numa pétala oblonga e bela

A mente despe-se e mesmo nua não se assume

Colho outra flor que sela a alma e vem a lume

E me encarcera num azul que se desvela.

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Ruy Câmara, poeta e romancista.