Gabriel García Márquez e Mercedes Barcha, sua mulher, chegaando em Aracataca, em 2007.
10 anos após a morte do genial escritor, García Márquez (1927-2014), apareceu em abril deste ano pela Editora Record “A Caminho de Macondo” uma antologia que reúne contos e outros textos já publicados pelo escritor no início da sua carreira (1950-1966), nos quais as citações de Macondo e do coronel Aureliano Buendía vão tomando forma para mais tarde surgir “Cem Anos de Solidão”, sua obra máxima, lançada em 1967.
Macondo é a recriação lúdica de Aracataca, um povoado perdido do interior da Colômbia, onde o Nobel da Literatura, Garcia Márquez nasceu, viveu parte da sua infância e que serviu para ambientar todo o processo de criação do universo mágico de “Cem Anos de Solidão”.
A obra reúne em um único tomo “A revoada”; “O Enterro do Diabo”; “Ninguém Escreve ao Coronel”; “Os Funerais de Mamãe Grande”; “O Veneno da Madrugada”; “A Má Hora”; “A casa dos Buendía”; “A Filha do Coronel”, “O Filho do Coronel”, “O Regresso de Meme”, “Monólogo de Isabel Vendo Chover em Macondo”, “Um homem Vem na Chuva” e “Um Dia Depois do Sábado”), todos publicados inicialmente em jornais e revistas, entre 1950 e 1954, alguns com a observação “Apontamentos para um romance”, como complemento do título.
Alguns desses textos antigos já citavam o coronel Aureliano Buendía, o protagonista da abertura de “Cem anos de solidão”: “Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.
Perguntado sobre qual foi o propósito quando se sentou para escrever “Cem anos de solidão”, García Márquez respondeu: “Dar uma saída literária, integral, para todas as experiências que de algum modo me tivessem afetado durante a infância”. E sobre a observação de muitos críticos que viam no livro uma parábola ou alegoria da história da humanidade, ele relativizou o realismo mágico e rebateu: “Não, eu só quis deixar um testemunho poético do mundo da minha infância, que transcorreu numa casa grande, muito triste, com uma irmã que comia terra e uma avó que adivinhava o futuro, e numerosos parentes de nomes iguais que nunca fizeram muita distinção entre a felicidade e a demência. Ninguém acredita, mas eu não inventei nada; não passo de um simples escrivão”, disse o escritor ao amigo Plinio Apuleyo Mendoza e também em várias entrevistas ao longo de sua vida.
Quem não lembra desse fragmento de “Cem Anos de Solidão”? “Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las se precisava apontar com o dedo. Todos os anos, pelo mês de março, uma família de ciganos esfarrapados plantava a sua tenda perto da aldeia e, com um grande alvoroço de apitos e tambores, dava a conhecer os novos inventos”.
Em “Nota da edição original”, Conrado Zuluago, organizador de “A caminho de Macondo”, afirma: “Gabriel García Márquez argumentou em várias ocasiões que primeiro era preciso aprender a escrever um livro e só depois encarar a página em branco. Foram quase vinte anos ‘vivendo’ em Macondo para que aprendesse a escrever sua obra-prima ‘Cem anos de solidão’. (…) Assim como um desbravador, ele precisou abrir um caminho, apropriar-se de um espaço e delinear, pelo menos, traços das personagens que o habitariam. Por isso, esta antologia de textos completos – mas de dimensões muito diversas – tem como título ‘A caminho de Macondo’”.
Aracataca, distrito de Magdalena, Colômbia, onde nasceu García Márquez, Prêmio Nobel em 1982
Um primeiro exemplo desse caminho é de 1950, 17 anos antes do lançamento de “Cem anos de solidão” em 1967. No “apontamento para um romance” “A casa dos Buendía”, publicado em 6 de junho, no número 6 da revista “Crónica” (que ele fundou com amigos boêmios) já aparece o coronel Aureliano Buendía, que volta ao povoado com o término da guerra civil com apenas “o título militar e uma vaga inconsciência de seu desastre”. García Márquez escreve: “Quando o coronel Aureliano Buendía voltou ao povoado, a guerra civil já havia terminado.
Ao novo coronel talvez nada tivesse restado da áspera peregrinação. Restava-lhe apenas o título militar e uma vaga inconsciência do seu desastre. Mas também lhe restava metade da morte do último Buendía e uma ração de fome inteira. Restava-lhe a saudade da domesticidade e o desejo de ter um casa tranquila, pacata, sem guerra, que tivesse jamba alta para o sol e uma rede no quintal, entre dois mourões.
A máquina de escrever de García Márquez está exposta na Biblioteca Nacional da Colômbia, em Bogotá
Crédito: EITAN ABRAMOVICH/afp
No povoado onde ficava a casa de seus ancestrais o coronel e a esposa encontraram apenas as raízes dos mourões incinerados e o alto terrapleno, varrido já pelo vento de todos os dias. Ninguém teria reconhecido o lugar onde antes houvera uma casa. ‘Tão claro, tão limpo era tudo isso’, disse o coronel, recordando. Mas, entre as cinzas onde estivera o quintal, já reverdecia a amendoeira, como um Cristo entre os escombros, junto ao quartinho de madeira da privada. A árvore, de um lado, era a mesma que havia lançado sombra sobre o quintal dos velhos Buendía”.
Macondo, antes de ser a Aracataca natal de García Márquez, foi hotel, conta Zuluago: “A primeira menção a Macondo pode passar despercebida. No conto ‘Um Dia Depois do Sábado’, que foi publicado pela primeira vez em 1954 e faz parte do livro “Os Funerais da Mamãe Grande” (1962), um jovem desce do trem que chega ao povoado e, vendo o padre, pensa, sem nenhuma lógica aparente, que se há um padre naquele povoado, também deve haver um hotel, e entra num estabelecimento sem olhar a placa que anuncia: ‘Hotel Macondo’”.
Assim, de formas diversas, todas as 11 obras de “A caminho de Macondo” remetem a “Cem anos de solidão”, seja pelas citações de Macondo ou povoados similares, seja pelos personagens emblemáticos, como Aureliano e José Arcádio Buendía.
Certa vez, García Márquez declarou em entrevista: “Macondo não é um lugar, mas um estado de ânimo que permite ver o que queremos e como queremos”.
No prefácio de “A caminho de Macondo”, a jornalista mexicana Alma Guillermoprieto lembra que García Márquez diz que nada mais de importante aconteceu em sua vida depois dos 8 anos de idade. Exagero ou extravagância à parte, o escritor não deixava de ter razão.
“Aqueles primeiros oito anos que ele passou na casa dos avós maternos em Aracataca, no departamento de Magdalena, Colômbia, vulgo Macondo, deram-lhe material para toda uma vida inteira”, lembra Alma. De fato, a história do menino Gabo é muito conhecida. Ele nasceu em 6 de março de 1927 em Aracataca. Logo aos 2 anos de idade é deixado no casarão dos avós maternos pelos pais, Gabriel Eligio e Luisa Santiaga, que saem em busca de uma vida melhor.
Ana Guillermoprieto relembra: “O avó, Nicolás Márquez, havia lutado do lado liberal, com grau de coronel, na guerra conhecida como dos Mil Dias, que ensanguentou o país quando o século 19 engrenava no 20. Seu maior segredo é que ele, que tanto combateu e exterminou em seus anos de militar, vive atormentado pela morte do homem que matou depois da guerra por uma questão de honra. Convive com o fardo daquela morte única como um fantasma e abandona o povoado onde cometeu o crime com a esperança de deixar o morto para trás. Vivem em itinerância por vários anos, ele e Tranquilina Iguarán, sua esposa com os dois filhos mais velhos e a pequena Luisa Santiaga, que um dia será a mãe de Gabriel (…) Tentam fincar raízes em cidades e povoados ao redor da Ciénaga Grande de Santa Marta até arribarem, enfim, em Aracataca, povoado bananeiro que se consome entre o calor e os aguaceiros bíblicos do trópico.”
Massacre no Povoado
A “febre” da banana havia chegado com a companhia norte-americana United Fruit Company após a guerra e com ela incontáveis aventureiros, charlatães, caçadores de fortuna e prostitutas que no futuro comporiam o cenário de “Cem anos de solidão”. A exploração desenfreada dos trabalhadores levou a uma greve em 1928, que terminou com um massacre praticado pelo exército da Colômbia, cujo governo conservador do presidente Miguel Mendéz atendeu aos interesses dos EUA e da companha bananeira.
Nunca se soube o número certo de grevistas, chamados de “subversivos” e “comunistas”, mortos. Teriam sido cerca de 3 mil. Por causa do massacre, a companhia acabou abandonando Aracataca, o que arruinou o povoado. Sobre isso, García Márquez escreve em seu livro de memórias “Viver para contar”: “O dinheiro, as brisas de dezembro, a faca no pão, o trovão das três da tarde, o aroma dos jasmins, o amor. Só ficaram as amendoeiras empoeiradas, as ruas reverberantes, as casas de madeira e tetos de zinco enferrujado com sua gente taciturna, devastadas pelas recordações”.
Naquela época, García Márquez era então o menino que vivia com os avós numa casa de muitos quartos e grandes corredores, onde também moravam muitas mulheres da família. O coronel conta ao garoto o seu passado na guerra, o homem que matou por honra, enquanto a avó aguça a imaginação dele com histórias de fantasmas e assombrações.
Daí, a constatação de García Márquez de que tudo de interessante na sua vida aconteceu até os 8 anos de idade. Alma Guillermoprieto analisa então no prefácio de “A caminho de Macondo”: “O exorcismo de Aracataca, que se conclui em ‘Cem anos de solidão’ – a história dos avós, um que mata homens e a outra que vê fantasmas em cada canto; a história da arrevesada corte do seu pai, Gabriel Eligio García, à sua mãe, Luisa Santiaga; a origem de Aracataca e seu final; a história de sua avó, mãe de Gabriel Eligio, mulher jovial que tem filhos sem se preocupar em se casar com os diversos pais e que, definitivamente, não confunde alhos com bugalhos, o massacre, os padres, a chuva de pássaros [mortos], o descobrimento do gelo – tudo, tudo está naqueles oito anos e nas modestas cento e tantas páginas que o autor gastas em suas memórias para narrar os primeiros e definitivos anos de sua infância e as consequências. (…) Fantasma se exorciza escrevendo, e os textos [de ‘A caminho de Macondo’] são precisamente isso: a oferenda ao passado de um talentoso jovem que, como tantos outros aspirantes a escritor, passara o tempo em busca de temas extravagantes para relatos únicos e geniais”.
Trecho de “Os funerais de Mamãe Grande” *
Os funerais de Mamãe Grande” é um dos sete contos do livro homônimo de Gabriel García Márquez, lançado em 1962, no qual Macondo já aparece cinco anos antes de “Cem anos de solidão”.
“A ninguém teria ocorrido pensar que a Mamãe Grande fosse mortal, salvo aos membros de sua tribo, e ela mesma, aguilhoada pelas premonições senis do padre Antonio Isabel. Ela acreditava, porém, que viveria mais de cem anos, como sua avó materna, que na guerra de 1875 enfrentou uma patrulha do coronel Aureliano Buendía, entrincheirada na cozinha da fazenda. Só em abril deste ano, a Mamãe Grande compreendeu que Deus não lhe concederia o privilégio de liquidar pessoalmente, em franca refrega, uma horda de maçons federalistas.
Na primeira semana de dores, o médico da família entreve-a com cataplasmas de mostarda e meias de lã. Era um médico hereditário, laureado em Montpellier, contrário por convicção filosófica aos progressos de sua ciência, a quem a Mamãe Grande havia concedido a prebenda de que se proibisse o estabelecimento de outros médicos em Macondo. Houve uma época em que percorria o povoado a cavalo visitando os lúgubres enfermos do entardecer, e a natureza concedeu-lhe o privilégio de ser pai de numerosos filhos alheios.
O artritismo, porém, ancilosou-o numa rede e acabou por atender os seus pacientes sem visitá-los, por meio de suposições, mexericos e recados. Solicitado pela Mamãe Grande, atravessou a praça de pijama, apoiado em duas bengalas, e se instalou no quarto da doente. Só quando compreendeu que Mamãe Grande agonizava, mandou trazer uma arca com fascos de porcelana com inscrições em latim e durante três semanas besuntou a moribunda por dentro e por fora com todo tipo de emplastros acadêmicos, julepes magníficos e supositórios magistrais. Depois aplicou-lhe sapos defumados defumados no lugar da dor e sanguessugas nos rins, até a madrugada daquele dia em que teve que enfrentar a alternativa de fazê-la sangrar pelo barbeiro ou exorcizar pelo padre Antonio Isabel.”
“A FILHA DO CORONEL” *
“Na igreja uma cadeira reservada para o coronel Aureliano Buendía atrás dos últimos bancos, exatamente debaixo do coro. Ao lado da cadeira, um lugar desocupado, onde a pequena Remédios colocava sua almofadinha para se ajoelhar quando o pai se ajoelhasse. O coronel só usava a cadeira durante o sermão. No primeiro domingo, Remédios não soube o que fazer quando o pai se sentou. Continuou de pé durante todo o tempo, sem se mexer, até que seus pés adormeceram e seus joelhos começaram a doer. Depois, quando o padre desceu do púlpito, o coronel ficou de pé, e a menina deixou de sentir o adormecimento e as dores, não por ter saído de seu lugar, mas porque, quando o padre parou de falar e seu pai ficou em pé, a menina acreditou que a missa tivesse acabado. Nas missas seguintes, Remédios já sabia, sem ter perguntado, que durante o sermão precisava se sentar no banco que ficava na frente, mas sem levar a almofadinha.
Com as muheres, sentou-se nos bancos da frente, perto do padre. Foi quando ouviu pela primeira vez cantarem na igreja. Remédios não estranhou a mudança de lugar no templo. Possivelmente nem estava em idade de se preocupar com o que significva uma mudança de companhia durante a missa. Mas, quando ouviu cantarem pela primeira vez, assustou-se com as vozes iniciais; desconcertou-se. Na sua frente, o Arcanjo Gabriel, com uma das mãos no alto e as asas fechadas, também deve ter sentido a voz dos cantores, porque Remédios viu a túnica diluída nos espaços totais da música e viu as pregas sacudidas por uma brisa tênue; pelo bafejo redimido e absoluto da nova criação. Ela sabe que voltou o olhar (porque a música soava às suas costas) e não viu os cantores, mas viu, no final da nave central, seu próprio pai erguido, esticado, junto ao lugar vazio onde sua própria almofadinha havia ficado durante um ano inteiro. E viu o pai, só humano, comovedor, com ar de completo abandono no final da nave. Só então teve vontade de estar lá junto ao pai, sentindo o adormecimento dos joelhos.
Com as muheres, sentou-se nos bancos da frente, perto do padre. Foi quando ouviu pela primeira vez cantarem na igreja. Remédios não estranhou a mudança de lugar no templo. Possivelmente nem estava em idade de se preocupar com o que significva uma mudança de companhia durante a missa. Mas, quando ouviu cantarem pela primeira vez, assustou-se com as vozes iniciais; desconcertou-se. Na sua frente, o Arcanjo Gabriel, com uma das mãos no alto e as asas fechadas, também deve ter sentido a voz dos cantores, porque Remédios viu a túnica diluída nos espaços totais da música e viu as pregas sacudidas por uma brisa tênue; pelo bafejo redimido e absoluto da nova criação. Ela sabe que voltou o olhar (porque a música soava às suas costas) e não viu os cantores, mas viu, no final da nave central, seu próprio pai erguido, esticado, junto ao lugar vazio onde sua própria almofadinha havia ficado durante um ano inteiro. E viu o pai, só humano, comovedor, com ar de completo abandono no final da nave. Só então teve vontade de estar lá junto ao pai, sentindo o adormecimento dos joelhos.
Talvez Remédios não se lembre de que foi essa a segunda vez que olhou o pai de frente e que seu rosto já não era parecido com o dos pássaros, mas exatamente igual ao que ela tinha desejado ver durante longos anos na ponta da mesa. De repente o mundo de seu pai se tornou claro para ela. Foi como se a voz dos cantores tivesse arrancado um véu que durante toda a sua vida se interpusera entre o pai e ela. Então compreendeu por que seu pai nunca lhe dirigira a palavra. E compreendeu que um homem não precisa falar com sua filha mais nova quando a filha sabe fazer as coisas no tempo certo, corretamente, como o pai gostaria que as tivesse feito, caso a filha as tivesse feito de maneira diferente. Ela compreendeu por que, quando ia à missa das oito aos domingos, levada pela mão do pai, pôde achar que um pai não era mais que aquilo. Um homem que leva pela mão uma menina com a qual não deve trocar nenhuma palavra durante todo o tempo.
Isso aconteceu num domingo. Na segunda-feira, a menina Remédios começou a crescer apressadamente.”…
Créditos: Paulo Nogueira
SOBRE O BOOM DA LITERATURA LATINO-AMERICANA
Na década de 70, início do grande boom da literatura latino-americana, surgiram dezenas de grandes escritores (ficcionistas e poetas geniais) que sairam de sua províncias e de passo em passo, conseguiram o reconhecimento mundial, tanto da crítica especializada quanto dos leitores, e suas obras foram traduzidas e publicadas em centenas de países.
Autores mais antigos como Ernesto Sábato, Carlos Onetti e Julio Cortázar ganharam terreno ao mesmo tempo em que surgiam jovens como o colombiano Gabriel García Márquez, o peruano Mario Vargas Llosa e o mexicano nascido no Panamá, Carlos Fuentes. Em apenas cinco anos apareceram obras monumentais como:
“La muerte de Artemio Cruz – Carlos Fuentes”, “La ciudad y los perros – Vargas Llosa”, “Sobre héroes y tumbas – Sábato” e “Cien años de soledad – García Márquez”.
O que havia em comum entre esses autores? Todos, sem exceção, chegaram na Europa como intelectuais exilados ou auto-exilados de seus países e buscavam abrigo na imprensa como uma forma de conspirar em favor da causa latino-americana, terrítório infestado de ditadores e tiranos.
Vargas Llosa disse certa vez que havia chegado na Europa como Peruano e lá descobriu-se latino-americano. Em verdade todos sentiam na pele a necessidade de comungar com esse sentimento de unidade e, sobretudo, de pertencer a uma cultura que lhes eram comum, apesar das suas diferenças e peculiaridades regionais.
Com alguma exceção, todos tomaram parte nos movimentos ativistas da época em favor da liberdade individual e de expressão, em favor dos direitos humanos, se alinharam contra a guerra fria e a favor da revolução cubana e nicaragüense.
No furor dos movimentos alguns escritores europeus passaram a chamar o grupo de cartel de mafiosos patrocinados por grandes editores. Claro que o tempo apagou essa tentativa nociva e hoje não se tem dúvida quanto a qualidade narrativa e estética de um Garcia Márquez, Vargas Llosa, Carlos Fuentes, que são donos das páginas mais notáveis que temos notícias em nossos dias e quicá, por toda a incerta e duvidosa eternidade.
RESUMO BIOGRÁFICO
Gabriel José García Márquez nasceu em 6 de março de 1927, na cidade colombiana de Aracataca. Foi o mais velho de 11 irmãos, mas viveu um período da infância fora da casa de seus pais, momento em que, dos 5 aos 9 anos de idade, foi criado pelos avós maternos.
Após a morte de seu avô, em 1936, Gabriel, ou Gabo, como era chamado pelos amigos, voltou a morar com seus pais na cidade de Sucre, onde, aos 10 anos de idade, escrevia versos humorísticos. Por meio de uma bolsa que ganhou, iniciou, quando tinha 13 anos, os estudos no Liceu Nacional de Zipaquirá. Após concluir seus estudos nessa instituição, o jovem Gabriel mudou-se para Bogotá, capital de seu país, para estudar Direito na Universidade Nacional. Nesse período, iniciou seu trabalho como jornalista no Jornal El Universal.
No início da década de 1940, Gabriel García Márquez ingressou no Grupo de Barranquilla, grupo literário de amigos cujo líder era Ramón Vinyes, dono de uma livraria com um grande acervo de obras da literatura espanhola, italiana, francesa e inglesa, o que possibilitou ao autor de Cem anos de solidão ler os clássicos.
Em 1955, García Márquez publicou seu primeiro livro, A Revoada (O enterro do diabo), ano em que também venceu o primeiro prêmio no concurso da Associação de Escritores e Artistas. Como jornalista, atuou como correspondente internacional do jornal El espectador em Genebra e em Roma, além de ter passado um período em Paris, Polônia, Hungria, República Democrática Alemã, Tchecoslováquia e na União Soviética.
Em março de 1958, casou-se com Mercedes Barchay e tiveram dois filhos: Rodrigo (1959) e Gonzalo (1962). No ano de 1959 foi nomeado diretor da recém-criada agência de notícias cubana Prensa Latina. Em 1960 passou seis meses em Cuba e, no ano seguinte, foi enviado a Nova York. Posteriormente foi morar no México, onde escreveu grande parte de sua obra e onde faleceu em 17 de abril de 2014.”
Cem Anos de Solidão é considerado um marco da literatura latino-americana e exemplo maior do estilo a partir de então denominado “Realismo Fantástico”, é que o autor começa a ter seu talento reconhecido mundialmente. Aclamado instantaneamente como um dos maiores romances do século XX, Cem Anos de Solidão garantiu o pleno sucesso dos livros de García Márquez e, de aí em diante, seguiu-se a publicação de um outro volume de contos, A incrível e triste história da Cândida Erêndira e sua avó desalmada (1972), mais uma obra que exercitava o modo do real-maravilloso (como conceituara Alejo Carpentier).
Depois de vários anos sem publicar nenhum romance, García Márquez escreveu aquele que considera como seu maior logro literário, O outono do patriarca (1975), livro que relata a história de um ditador sul-americano, com contornos prototípicos, que vive a situação absurda e solitária do “poder total”. De tal maneira o livro foi bem-sucedido do ponto de vista da observação da alma interior daquele que detém o poder, que mereceu do general Omar Torrijo, que comandou o Panamá em estado de exceção de 1968 até 1981, e fora abatido pelos chacais da CIA em pleno vôo.
Em 1981, publica novo romance, Crônica de uma Morte Anunciada, baseado na trágica história acontecida a Santiago Nasar, assassinado em frente à sua casa, depois de sua morte ter sido anunciada, sem que soubesse, a toda a cidade. Seu último grande livro foi O amor nos tempos do cólera, publicado em 1985, após ter sido laureado com o Nobel da Literatura, em 1982. O livro narra a história do amor de Florentino Ariza por Fermina Daza, livremente inspirado na história dos pais de García Márquez. Suas novelas e histórias curtas o levaram ao Nobel de Literatura em 1982. Em 2002, publicou sua autobiografia, Viver para Contar, logo após ter sido diagnosticado um Câncer Linfártico. García Marquéz apontou, entre outros, como seus mestres os escritores americanos: William Faulkner e Ernest Hemingway