OSSIP MANDELSTAM
Desde aquela noite branca em que as nossas linhas da vida pela primeira vez se cruzaram 15 anos atrás, em um Primeiro de Maio, em Kiev, num miserável cabaré boêmio de nome, Loja dos Trastes, em que devo ter ouvido Mandelstam fazer leituras públicas umas vinte vezes, o puro prazer com que absorvo a poesia dos seus poemas não diminuiu. Há momentos em que me vejo….
Assim começa o romance De Mandelstam para Stalin, um Epigrama Trágico e belo” graças à pena do escritor americano, Robert Littel.
De fato existe um Everest de livros sobre o terror stalinista, mas poucos narram de forma tão elegante, tão real e dolorosa a história de um tempo terrível que empurrou para o éter milhões de almas.
Em nenhum lugar do mundo se dá tanta importância à poesia: é somente em nosso país que se fuzila por causa de um verso. A frase irônica rendeu ao poeta russo, Ossip Mandelstam, uma dezena de anos nos cárceres da Rússia, onde sentiu na carne, na alma e nos sentidos, os flagelos impostos pelo regime stalinista, numa época atroz e assassina. Joseph Stalin jamais perdoou Mandelstam por uma metáfora alusiva ao Alpinista do Kremlin.
Brindarei o leitor com um fragmento tocante de um dos seus poemas mais singelos, escritos antes da sua morte, em 1938, num hospício-prisão na gélida Sibéria:
Eu não podia sentir no nevoeiro
Tua imprecisa imagem de ansiedade,
Oh meu Deus, foi o sussurro que primeiro
Me saiu do peito bem contra vontade.
O nome de Deus, como um pássaro grande,
Do meu peito a voar se despedia!
À minha frente paira uma névoa espessa,
Atrás ficava uma gaiola vazia.
Parece certo dizer que o comunismo, nazismo e fascismo, mais do que todas as pestes ou hecatombes, foram juntos o flagelo maior que já se abateu sobre a humanidade desde o início dos tempos.